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Mesmo vice, Copa Sul-Americana mostrou a força do modelo Red Bull

Chegar na final, da maneira que chegou, mostra como o time de Bragança Paulista está no caminho certo

O choro do técnico Maurício Barbieri, e do atacante Artur na coletiva após a derrota para o Athletico na final da Copa Sul-Americana. Somado com a decepção dos torcedores: é natural. O Red Bull Bragantino queria e sonhava em ser campeão da América. Perder, principalmente uma final, é ruim demais, dói demais, só que faz parte do futebol. Pensando no todo, o trabalho feito pela Red Bull nos últimos anos mostrou a força dele dentro da competição, mesmo sem ser campeão.

O time até então, seja como Red Bull ou Bragantino, tinha uma história muito pequena em competições internacionais. Tinha disputado apenas três e enfrentado apenas um time de fora do país e sido eliminado por ele. Portanto o time atual quebrou vários tabus nessa competição e apresentou um futebol excelente.

Ari Ferreira / Red Bull Bragantino

Na primeira fase o time sofreu um pouco. Como era do pote 4 no sorteio, pelo retrospecto em competições internacionais, caiu no grupo da morte, ao lado de Talleres, da Argentina, Tolima, da Colômbia e Emelec, do Equador. Perdeu para o Talleres e para o Emelec na primeira fase, mas reagiu e passou na última rodada vencendo o Tolima — lembrando que nesta Sul-Americana apenas o primeiro de cada grupo avançava.

Depois da primeira fase o time perdeu Claudinho. O principal jogador do clube, destaque do último brasileiro como artilheiro e melhor jogador foi para as Olimpíadas e depois foi vendido para o Zenit. O time era muito concentrado nele, e precisou se remontar com novas peças. Praxedes foi contratado e o jogador que atuava de 8 no Inter assumiu um papel de 10 no Braga e ajudou o time em várias partidas do mata-mata.

Na fase eliminatória o time de Barbieri viu o protagonismo de Artur ascender com o time vencendo todos os jogos fora de casa e avançando até a final. Quando atuava fora de casa o Braga apostava numa marcação alta e surpreendia o rival que em casa acabava se vendo em dificuldade e cedendo espaços. Depois, derrotado, ia jogar fora precisando do resultado.

Ari Ferreira / Red Bull Bragantino

Durante a competição Raul, o 5 que ajuda na organização da saída de bola e a fechar a defesa, machucou e ficou de fora da equipe pelo restante da temporada, Barbieri teve de encontrar em Jadsom, que veio do Cruzeiro, o substituto, que fez uma grande partida contra o Libertad na semifinal.

Ele é mais um exemplo de jogador que virou titular durante a competição, assim como Cuello que passou a ser um dos destaques do time com muita entrega, bom posicionamento, chutes de longa distâncias precisos e cruzamentos buscando a segunda trave. Foi muito bem em jogos decisivos.

Rodrigo Seixas / Correio de Atibaia

Mas começo justamente por ele, no por onde o Braga começou a perder a final — nem é porque ele jogou mal. Na partida decisiva Barbieri não tinha Eric Ramires, machucado, jogador que costuma ser o 8 da equipe, e sem muitas opções o treinador do Braga foi a campo com um time ofensivo. Cuello jogou na posição dele e Helinho ficou aberto pela esquerda. A ideia até funcionou com Helinho cruzando bem pela esquerda e criando algumas chances, e com Cuello arriscando dois chutes perigosos ao gol, mas não deu uma dinâmica adequada ao meio de campo.

Há alguns dias o Massa Bruta enfrentou o Athletico- PR no Nabi Abi Chedid e perdeu por 2×0. Na final o Braga esperava um resultado diferente, e um roteiro diferente também. Mas não aconteceu nenhuma das duas coisas. O Furacão tem uma forma muito bem definida de jogar. É uma equipe que fica com o time recuado, faz uma saída de bola cautelosa pelos lados do campo e defende com uma linha da 5, sempre buscando os contra-ataques.

O 3–4–3, vira 5–4–1 para defender, tem alas que correm a beirada toda do campo e na frente um centroavante mais de área com dois habilidosos próximos deles, Terans e Nikão, um de cada lado, os dois nomes do gol da final. Em uma jogada do uruguaio, pela esquerda, ele chutou e Cleiton defendeu. No rebote, Nikão finalizou de voleio no gol e abriu o placar. O gol saiu aos 29 minutos do segundo tempo.

Divulgação / Conmebol

Em campo o Bragantino não conseguiu fazer valer as maiores qualidades do time, que são a marcação alta, a inversão de lado da jogada, a superioridade ofensiva e o aproveitamento de espaços na frente. O Braga não conseguiu fazer isso valer em campo na final.

Mesmo assim não dá pra colocar na conta de falta de experiencia pela derrota do Red Bull. Que mesmo com uma equipe jovem, perdeu muito mais na tática, técnica do que por ter um mental fraco ou falta de experiência.

A equipe de Barbieri costuma colocar cinco jogadores mais próximos da linha de defesa rival para fazer um 5×4 (já que a maioria dos times usa uma linha de 4 na defesa) como o Athletico defende com linha de cinco, ficava 5×5. Ter uma linha de 5 também dificultava ao Braga o criar superioridade quando fazia uma virada de jogo, já que a linha tem um jogador a mais. No Campeonato Brasileiro o Bragantino é a terceira equipe que mais fez viradas de jogo, com 158 (85% de acerto). Só atrás do Palmeiras e do próprio Athletico, que teve no lance do gol na final uma inversão de lado para a bola chegar em Terans.

A partida por mais que tenha ficado na maior parte do tempo a favor da estratégia do Athletico, foi equilibrada. O Furacão hoje consegue ter uma equipe incrivelmente sólida e que dominou a final na estratégia. É o merecido campeão, chegando ao 2º título da competição, o maior campeão entre os brasileiros. O trabalho do clube tem rendido títulos e tem conseguido ótimos resultados no futebol brasileiro.

Divulgação / Conmebol

O Red Bull Bragantino mesmo perdendo fez algo muito importante. Sem ter uma das maiores folhas salariais do Brasil — mesmo que maior que a de alguns rivais na Sula, e tendo dinheiro para fazer contratações caras — e com um elenco muito jovem, conseguiu chegar numa final internacional e sempre jogando como protagonista dos jogos, até mesmo em uma final. Foi algo que o técnico Barbieri exaltou e que é hoje uma das marcas deste time.

“Independente do resultado, fomos uma equipe que procurou sempre querer a bola e atacar. Adotamos uma postura corajosa. Eu ficaria decepcionado se não tivesse essa postura. Gosto de uma frase que diz que o corajoso morre uma vez só, o covarde morre mil vezes. Hoje é um dia que deixamos um pedaço aqui, mas com a certeza que estamos no caminho certo”. Barbieri

Hoje o Bragantino tem estrutura — terá ainda mais — e tem entregado bons resultados dentro de campo. Falta um pouco mais de amadurecimento do projeto e de mais peças decisivas no elenco. Na final fizeram falta jogadores de meio campo que ficaram de fora por lesão. Pesou também pegar um adversário que tão bem é capaz de anular o Massa Bruta, que já vem com uma tradição “copeira” dos últimos anos.

A tendência é que o Braga jogue a Libertadores no ano que vem, mesmo perdendo uma vaga direta para ela ao ser vice da Sula, já que está perto do G-4 no BR21. Seguindo o projeto do jeito que vem acontecendo, o Red Bull Bragantino ainda pode fazer muita coisa importante no futebol brasileiro.