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Amora ácida

Marcelino Lima

Que Eugênio da Chalana e Trindade que nada! O programa Revoredo (O som da viola caipira instrumental) de hoje, 26 de setembro, que o maestro José Gustavo Julião de Camargo apresenta às tardes de quinta-feira, às 17 horas (com repeteco aos sábados, a partir das 8 horas), nas emissoras da Rádio USP FM das cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, destacou o trabalho de André Moraes e César Patená. A última música do repertório que rolou foi Pagode do Veio, com arranjo para interpretação da dupla assinado por João Paulo Amaral.

Regente de orquestra e um dos maiores solistas de viola caipira instrumental do país, além de arranjador bala que é, fiquei imaginando que Amaral, para testar as unhas de gato do duo, encheu a peça de notas tipo curva de cotovelo, mindinhos quebrados em 90° graus, diques, cascas de bananas, cascavéis íntegras, a figa de patuá do Fabrício Conde e outras pegadinhas e desafios técnicos. Como quem está diante de um cubo imágico ou não tem passo tímido, entretanto, Moraes e Patená não destoaram como uma amora ácida: em menos de 8s, desativaram o novelo como quem – sem descascá-las, em uma feira livre ou evento popular, que poderia ser, ainda, um restrito retiro Hare Krishna -, chupa laranjas enquanto, tirando os chapéus para fazer mesuras para as moças bonitas que não pagam (mas não levam), ainda tocam feito mestres únicos…

As dez cordas caipiras
Multiplicam-se em sons –
Cigarras em êxtase.

#haibun

Marcelino Lima é jornalista profissional formado pela PUC-SP e editor do blog Barulho d’Água Música, dedicado à produção independente. Divulga gratuita e exclusivamente músicas de artistas populares, de viola, de raiz, folclóricas e regional com trabalhos pouco conhecidos ou já consolidados e de qualidade que poderiam ter maior destaque na mídia comercial. A imagem é da Isadora Almeida (IA).