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Às mulheres de Atibaia: Bernadete Pacheco

Juliana Gobbe

Impossível não começar este artigo com o Era uma vez. Estratégia antiga dos fabulistas, ou melhor, fabulosos que dedicaram suas vidas ao encantamento de outras. E aqui eu me refiro à boa literatura oral que nos chegou da Europa, da Ásia e, também à africana que ainda pouco conhecemos. São histórias guardiãs da sabedoria ancestral, carregam consigo os toques de Midas, o convencimento de Xerazade, as mazelas e as delícias do mundo.

Conheci essa mulher incrível em 2011. Soube do trabalho dela por um curso de contação de histórias. Decidi me inscrever, pois também queria me apropriar desta arte. Não virei contadora, pois quem nasce para Juliana Gobbe, jamais chegará à Bernadete Pacheco (risos), no entanto, conquistei sua amizade e isso é prêmio inigualável.

Quem chega perto do trabalho da Berna e começa a observá-la, percebe o quão encantadora é a forma suave de seus gestos, sua postura corporal nada estridente, sua voz empostada na medida, tudo leve e natural. Ao contar, ou a encantar histórias, a artista nos comove com a materialização da delicadeza na interpretação da rica tradição ocidental, sem esquecer a oriental. É ela uma espécie de artesã das fábulas as quais se dedica, pois a cada uma empresta uma magia diferente.

Da literatura moçambicana nasceu o conto Coração-Sozinho de Ricardo Ramos. A história nos mostra uma família de leões em que os filhotes recém nascidos tinham a opção da escolha de seus nomes. Um deles escolheu um nome peculiar: Coração-Sozinho. Este fato marcou-lhe negativamente a existência, pois nunca encontrava pessoas para dividir seu amor. Nesse sentido, nossa encantadora de histórias não se furtou a ir ao encontro das pessoas para aquecer seus corações, por isso nunca está só, e sim, rodeada por gente e projetos inesquecíveis.

Desde 2009 ela coordena aqui em Atibaia o Projeto ContaComigo no qual capacita pessoas voluntárias para a contação de histórias, como alavanca para o trabalho em diversas instituições trazendo alegria para muitas pessoas. Aliás, se me pedissem para traduzir a Bernadete em uma única palavra eu diria: Alegria! É esta potência que a move, com seu jeito leve de perceber o entorno. Talvez, seja a atuação como psicóloga competente que tenha dado a ela tanta sabedoria na compreensão do humano.

Importante ressaltar que nos meandros da clínica, Bernadete tem feito um trabalho de excelência em torno da questão do luto, tema relevante para nossas vidas.

Seu gosto pela homeopatia como fonte de saúde, a predileção pelos partos naturais, seguindo a tradição indígena dão o tom da sua energia multiplicadora.

O mestre Gilberto Gil disse em uma de suas canções: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora”. Assim vive a nossa Berna! Feliz e intensamente cada dia, cada hora. Sou sua amiga, mas também sou sua fã! E aqui faço um agradecimento público pelo apoio emocional com o qual você me sustenta hoje e sempre.

* Juliana Gobbe é Doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Autora de Óculos de Marfim, À esquerda do Império (2017) e Os primeiros tempos da literatura atibaiense (2024). Coordena o blogue “Tecendo em Reverso”, os coletivos Abraço Cultural, Kalúnia e participa do Coletivo André Carneiro.