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Por dentro do jogo – Ninguém pauta uma imprensa livre e responsável, nem o Zubeldía

Aconteceu de novo. E, infelizmente, para além dos protocolos assumidos pela Conmebol, instituições, jogadores e arbitragem, todo o mundo que orbita o espetáculo do futebol precisa estar não só alinhado, mas empenhado em debater, refletir e falar de assuntos que são no mínimo desconfortáveis para quem ouve, lê ou fala dele. Imagina para aqueles que foram vitimados?

Assim, mais um caso de racismo é denunciado. Dessa vez, no Brasil. No Morumbis. Um jogador do São Paulo foi acusado. Navarro do Talleres o acusou de ter sido chamado de ‘venezuelano morto de fome’. Xenofobia, crime. O que falar como imprensa livre e responsável? Ignorar o fato? Falar de um resultado que pouco trazia diferença na classificação do grupo? Não, Zubeldía. O tornozelo do Luciano e as dificuldades do time não são maiores que qualquer movimento que possa ser interpretado como ‘passada de pano’ e que ofusque o ocorrido em campo.

Sim, é preciso investigar. Do meu sofá e de outros locais distantes, em verdade, não podemos dizer o que houve sem a devida apuração dos fatos. Entretanto, não falar sobre o que ocorreu é permitir que siga ocorrendo. E esse é o mundo de hoje. E dele todos fazemos parte. Mesmo que se neguem os acontecimentos. Não podemos mais nos esconder e viver em um mundo que não existe ou que nunca deveria ter existido. O técnico do clube ‘Campeão de Tudo’ quis relegar à imprensa um papel que não cabe a ela que é o de ser pautada.

A Imprensa é Livre pois é aquela que faz um trabalho responsável. Entende as questões e trabalha com uma hierarquia de prioridades. E ganhar a qualquer custo não pode ser a pauta aceita por nós da imprensa. A pergunta, inteligentíssima, do profissional de jornalismo fez jus à sua formação. Eis a importância. A resposta do treinador não. Passou muito longe do seu papel de porta-voz da instituição representada pela equipe após o jogo.

Dizer que não soube, não sabe e não viu é trabalhar em uma área cinzenta, distorcida. Como não se percebe uma interrupção de jogo por cerca de 10 minutos? Que autoridade, frente seu elenco, existe para falar com seus atletas e entender o ocorrido? Como não assimilar uma discussão em que a língua, majoritariamente, era o espanhol, sua língua mãe na Argentina? Como não perceber que um de seus jogadores se ausentou às pressas, conforme noticiado, e não foi encontrado no vestiário pela polícia?

Não Zubeldía, não. Vivemos em um país que sabe ser livre pois entende os compromissos que assume. O abraço protocolar de hoje, antes do jogo, foi para que finalidade mesmo? É preciso entender que ninguém pauta a imprensa. Que redigir o que se deve perguntar beira ao autoritarismo ou propaganda institucional. Bom para quem? Para o time do Morumbis é que não é. Para qualquer sociedade do século XXI também não.

Bruno Velasco

Formado em Jornalismo pela UVA – Universidade Veiga de Almeida (RJ), possui experiência em documentário, fotografia, rádio e produção de conteúdo pela Agência ZeroUm, SP.