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Corpos Dissidentes

No último sábado (27) Atibaia recebeu no Cine Itá Cultural, o espetáculo Corpos Dissidentes

Juliana Gobbe

A palavra dissidente no dicionário nos remete à noção daquele que diverge, mas se diverge, a divergência seria em relação a quê ou a quem?

Muito do que a sociedade vivenciou até agora quanto ao conceito de corpo, sobretudo no Ocidente, nos traz a ideia de castigo, punição, normatização de acordo com determinado padrão ou produtividade.

Os corpos femininos sempre foram alvo de castigo por determinadas religiões, tendo em vista a menstruarão das mulheres como algo sujo e contaminado. Isso existiu e ainda existe em determinadas culturas. A questão da sexualidade também sempre foi motivo de castigo para mulheres que contrariaram as normas e usaram seus corpos de maneira livre ao longo da história. O conceito de punição viria no sentido de criminalizar o corpo feminino perante a sociedade patriarcal.

Já a normatização segue atrelada ao questionável conceito de beleza que fora instituído por pequenos grupos para diminuir as pessoas através de suas diferenças, o que traz em si o caráter ridículo e autoritário dos nossos tempos.

Na questão da produtividade, o capitalismo nos impõe a cada momento o corpo dito “normal”, pois este cumpriria o seu papel na produção como peça útil de uma engrenagem material e ideológica escravizadora em sua essência.

A importância de se produzir um espetáculo como Corpos Dissidentes, caracteriza a denúncia que não podemos deixar de fazer todos os dias contra essa sociedade estruturalmente racista e preconceituosa.

Logo no primeiro momento do evento, o público assistiu comovido as projeções em imagens das obras do artista Pedro Henrique Gebara Malheiros (abaixo), mais conhecido como Pepi GM. No telão um mar de talento nos banhou com cores em luz e sombra que extravasavam a perspectiva de uma artista ímpar.

Ao longo do espetáculo, dirigido pela talentosa Réka Dartte (abaixo, ao centro), fomos prestigiados por muitos corpos que encenaram e bailaram ao som dos atabaques afiados e alinhados com a boa música afrobrasileira.

Ressaltamos também a direção artística primorosa do mestre Enoque Santos abaixo, à esquerda).

Que mais espetáculos como este possam nos comover com a diversidade presente na nossa cultura. Avante!

Juliana Gobbe é Doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Autora de Óculos de Marfim, À esquerda do Império (2017) e Os primeiros tempos da literatura atibaiense (2024). Coordena o blogue “Tecendo em Reverso”, os coletivos Abraço Cultural, Kalúnia e participa do Coletivo André Carneiro.

As imagens são de @roke.audiovisual e foto de abre: Reka Dartte