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Abusos sexuais na infância: o que isso pode causar no futuro?

Uma curiosidade é saber que de cinco garotas de programa entrevistadas, duas foram abusadas sexualmente na infância, e isso gerou diversos traumas na vida adulta.

Letícia Schefler

Essa violência deixa graves marcas na saúde mental e na vida da vítima, principalmente quando são crianças e adolescentes. Na maioria dos casos a vítima pode desenvolver transtornos psicológicos como depressão, ansiedade e Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Segundo pesquisas, o transtorno de estresse pós-traumático atinge 57% dos adolescentes que foram abusados sexualmente.

A fase da infância, é onde a criança absorve os valores básicos de moralidade e ética, e isso irá definir a construção de sua personalidade. Quando a criança ou adolescente sofre esse tipo de violência, e não é identificada ou tratada, o que pode ocorrer é que eles cresçam traumatizados e com valores distorcidos. 

Por isso, o apoio psicológico é de extrema importância, caso contrário a vítima sofrerá com os danos do abuso de modo que possa influenciar em seu comportamento, desejos e escolhas para o resto da vida.

Babi Bernardi lembra que o primeiro abuso sofrido, ocorreu quando ela tinha por volta de quatro anos de idade, e o abusador era o marido de sua babá. “A minha babá falava assim: senta aqui com vovô que ele vai cuidar de você. Ele era cego, aí ele pegava e ficava contando histórias para mim no colo dele e ficava mexendo nas minhas partes e eu sentia cócegas”, relembra.

Como era uma criança, a jovem não entendia o que estava acontecendo, só sabia que sentia cócegas quando aquele homem, que sabia o que estava fazendo, a tocava. Porém, um certo dia ele obrigou a jovem a praticar um ato sexual. “Um dia ele virou para mim e falou assim, agora você tem que chupar o pirulito, ele me obrigava e ele fedia muito”, conta.

Ao relembrar do que viveu, Babi se emociona, e chorando diz que era apenas uma criança e não sabia o que ele estava fazendo, em compensação o homem que já era um senhor, sabia e mesmo assim continuava abusando dela. A garota de 29 anos, comenta que só teve coragem de contar para a mãe sobre o abuso neste mês de outubro, depois de 25 anos do acontecimento.

“Acho que foi assim que eu comecei a ser prostituta na vida. Eu tenho muitos traumas, porque esse não foi o único abuso que sofri na vida, então ao mesmo tempo que eu amo os homens, eu odeio, não sei explicar”, conclui a jovem.

Valentina de 24 anos, trabalha como acompanhante na Mansão das Ninfetinhas, a casa de massagem onde Babi é dona. A jovem que é da cidade de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, foi abusada pelo padrasto quando era criança. Ela explica que não lembra quando os abusos começaram, pois, sua mãe estava com o homem desde quando ela tinha um ano de idade, por isso só consegue se lembrar de quando o inferno terminou.

“Isso acontecia quando minha mãe não estava em casa, geralmente de sábado, quando ele mandava meus dois irmãos brincarem na rua eu já sabia o que ia acontecer”, relata.

O padrasto de Valentina era agressivo e sempre batia na mãe dela, então, o homem usava isso como ameaça para que a jovem não contasse para a mãe sobre os abusos. “Ele falava que se eu contasse para alguém ele ia bater na minha mãe de novo, e ela apanhava dele direto, ele batia a cabeça dela na parede e uma vez até quebrou o guarda roupa de tanto bater a cabeça dela”. Como não queria ver a mãe apanhando, ela não contava.

Além dos abusos sexuais, o homem também agredia a jovem porque as vezes, quando criança, ela fazia xixi na cama de tanto medo que sentia do padrasto. As agressões e os abusos só cessaram com a separação dos dois, quando a garota tinha 13 anos, e foi aí que ela decidiu contar o que acontecia. A garota conta que até hoje não consegue ter um bom convívio com a mãe, isso porque não consegue esquecer tudo o que lhe ocorreu na infância.

“Minha mãe nunca fazia nada quando ele batia na gente, e a gente briga até hoje por isso. É uma coisa que eu não deveria fazer, mas eu jogo na cara dela, porque o que fizeram comigo e com meus irmãos, eu nunca ia deixar que fizesse com meu filho, eu matava a pessoa”, conclui Valentina.

Como podemos combater o abuso sexual na infância e adolescência?
É preciso debater o assunto na sociedade, com a família, nas escolas, etc. A conscientização sobre a violência sexual é muito importante e precisa ser feita, dessa forma as pessoas ficarão mais atentas a esse tipo de abuso.

Outra ação muito importante é conversar com as crianças, a informação e educação sobre seu corpo é crucial. Assim, a criança aprenderá como protegê-lo, e com isso terá abertura para conversar com os pais sobre qualquer situação desconfortável.

A escola também tem um papel fundamental e pode contribui quando a educação sexual é abordada de forma didática e acessível, para que elas aprendam sobre seu corpo e onde outras pessoas não podem tocar.

Existem casos em que a família sabe sobre a violência e isso é acobertado. Nesses casos, a criança pode se sentir segura para contar o que está acontecendo ao professor.

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Para denunciar basta ligar para o Disque 100. A ligação é anônima e gratuita.

Imagem: Babi Bernardi na infância

Letícia Schefler é acadêmica de Jornalismo da UNIFAAT.