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Liberdade na práxis: o dia 13 de maio

Raquel Silva, Marcelo Freitas e Sofia Luz

Está chegando o dia 13 de maio, difundido como o “Dia da Abolição da Escravatura” no Brasil. Dia que, até mesmo nos livros de História, simbolizara a libertação do povo negro escravizado pela força da causa abolicionista, que levou ao decreto da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, que foi uma medida estratégica para favorecer as relações internacionais com a Inglaterra, que pressionava fortemente o Império para a abolição. O povo negro, a partir de então, possuiria o direito de uma teórica liberdade. Além dessa narrativa embranquecida excluir toda a luta do povo escravizado, centenas e décadas depois, nós, população negra descendente, ainda não gozamos da isonomia e igualdade de direitos no país.

Para nós, negros, este dia representa muito pouco, é uma falsa abolição. Ainda enfrentamos a discriminação e o racismo em diversas formas e níveis, seja no cabelo, na escola ou em outras situações do dia a dia. “Eu mesmo lembro da minha infância, quando não pude deixar meu cabelo crescer como eu queria e sofria bullying na escola por causa disso”, relembra Marcelo Freitas. O cantor Jackson do Pandeiro ironiza o 13 de maio em sua canção do mesmo título, reiterando a ideia de Falsa Abolição, cantando: quanto preto sofreu, quanto preto morreu, morreu de tanto apanhar“. Quando raiou o sol da liberdade o preto cantou: “preto não sofreu mais humilhação porque o 13 de maio chegou!

Uma história apagada, um projeto do Estado para o embranquecimento da população, narrativas da história sempre contada pelos brancos, somado à diversas ferramentas sociais que separam ainda mais a população negra brasileira, como o colorismo, o “racismo velado” dificultam o processo de autoconhecimento como povo brasileiro e autodeterminação racial até hoje, e ainda nos divide de acordo com nosso tom de pele. “Eu mesma levei 27 anos para me entender como mulher negra. Entendia e rebatia o racismo, as discriminações que via. Mas não elaborava o racismo direto a mim, seja com o tom de pele ou reduzindo os impactos racistas por não ser retinta. Levaram 27 anos para eu entender meu lugar de fala no movimento negro”, conta Raquel Silva.

É preciso lembrar que a luta contra o racismo existia para além dos abolicionistas e não terminou com a abolição da escravatura, e que ainda há muito a ser feito para garantir a igualdade racial em nossa sociedade. Há uma dívida histórica a ser retratada para mais da metade dos brasileiros, enquanto uns herdaram terras de senhores escravocratas, grande parte da população herdou a dor, a exploração, a desigualdade e todos os outros males oriundos da escravização.

Por isso, é importante a organização do movimento negro em nossa sociedade, ordenado e falando o mesmo dialeto. O Dialeto dos Direitos para o povo preto. Da reparação histórica. Dos estudantes e professores negros nas universidades. Da ocupação de espaços de poder e espaços políticos. Do direito à saúde física, mental e emocional. Da redução do racismo ambiental. Do direito de ir e vir. Da liberdade em sua práxis.

Não podemos esquecer que a luta contra o racismo é uma luta constante e de todos. E que, infelizmente, ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas com perseverança e solidariedade, podemos superar os desafios e construir um futuro melhor para todos.

Raquel Silva é bióloga, ativista, mestre em Ecologia e doutoranda em Ambiente & Sociedade pela UNICAMP. Marcelo Freitas é ativista Social. Sofia Luz é ativista social e graduanda de Gestão de Políticas Públicas pela USP.

A Coluna Dialetos – Aliança Negra ocupará espaço toda semana no Correio de Atibaia para falar de Sociedade & Diversidade.