Redes sociais influenciam diretamente os distúrbios alimentares?
Julia Tennant
Que a internet tem crescido cada vez mais, já não é novidade para ninguém. Através das telas, a realidade tende a ser completamente diferente. Com o surgimento dos diversos tipos de redes sociais, como Facebook, Youtube, Twitter, TikTok, e principalmente o Instagram, vem o questionamento: como está a mente da nova geração?
A tecnologia é um meio que vem facilitando o contato, a informação tornando tudo muito mais “próximo”. Ela possui qualidades inegáveis, mas nem tudo são flores. Diante desse cenário tecnológico, podemos observar diversas consequências do mau uso das redes: temos um mundo escravo. Escravo das falsas aparências, das fake news, dos crimes cibernéticos, além da privacidade comprometida. Com isso, os malefícios da internet podem criar graves feridas – que machucam profundamente a mente de milhões de pessoas, incentivando um certo individualismo, o perfeccionismo, e despertando a ganância. Afinal, quanto mais visibilidade você tiver, mais dinheiro e fama. Hoje em dia é difícil encontrar alguém que não queira ser bem reconhecido socialmente. Parece que o grau de importância do ser humano dentro da sociedade está muito atrelado a isso.
Transtornos Alimentares
Dentre os diversos problemas causados pelo uso excessivo das redes sociais estão os transtornos alimentares. Desde muito cedo, somos influenciados pelos padrões sociais e culturais de beleza. Mas para algumas pessoas, esses padrões passam a ser extremamente rígidos, fazendo com que a alimentação, algo que deveria algo prazeroso, torne-se um sacrifício.
Segundo a psicóloga Mariany Fernandes, transtornos alimentares podem ser definidos como impulsos compulsivos de “esquiva social”. A busca pela perfeição acaba se tornando um ritual de camuflagem, já que não existem pessoas perfeitas. “O paciente com TDC (Transtorno Dismórfico Corporal) pode apresentar uma supervalorização da beleza e, com isso, acabar afastando-se da realidade, entrando em um campo de padrões em sua mente que não existem, nem mesmo para nós, pessoas que não sofrem com esse problema”, disse a psicóloga. Para ela, a cabeça dessas pessoas funciona diferente, se autossabota 10 vezes mais.
Transtornos alimentares podem causar a morte. Anualmente, o problema mata mais do que a depressão. 40% das pessoas não conseguem se livrar, enquanto os outros 60% sofrem muito para melhorar o quadro. A anorexia, por exemplo, é um dos transtornos mentais mais graves. Segundo a Folha de S. Paulo, estima-se que 1 a cada 5 jovens entre 6 e 18 anos apresenta algum tipo de desordem alimentar. A incidência de casos é maior entre as mulheres, dados que chegam a ser espantosos, mas qualquer um pode ser afetado. Inclusive homens.
Qual a verdadeira causa?
Transtornos alimentares podem ser causados por diversos fatores, dentre eles traumas de infância, abusos, relações ruins com familiares, dificuldades financeiras etc. Também estão frequentemente relacionados a profissões que exigem uma boa imagem. Por isso, a anorexia, por exemplo, está diretamente ligada a modelos e atrizes. As redes sociais acabam tornando-se um gatilho. Então como podemos identificar, e direcionar ajuda a essas pessoas? Os sintomas desse transtorno podem ser relativos e até confuso para leigos. Por isso, é muito importante o apoio e a busca de conhecimento por parte da família e amigos. Não adianta simplesmente dizer a alguém com anorexia ou bulimia “coma, você está muito magro!”, ou “você está engordando demais, coma menos”, para alguém com compulsão alimentar. A forma como eles lidam com a comida é diferente. E buscar entender como ajudá-los é um caminho que envolve muita paciência, gentileza e empatia.
Também precisamos mudar a forma como abordamos a relação da alimentação e o corpo, combatendo essas famosas perspectivas que padronizam o viver. Ser saudável vai muito além de ter um determinado peso ou seguir uma dieta rígida. Por isso, cuidado! Às vezes um comentário, mesmo que sem o intuito, pode acabar agravando o caso. Muitos pacientes acabam morrendo por desidratação, taquicardia, anemia, e muitos outros problemas de saúde causados pela má alimentação. Diante disso, além do encorajamento de tratamento psicológico, o nutricional também é essencial.
“Não é fácil entender a mente humana, é comum sermos afetados pela vida cotidiana, mas ter empatia, conosco e com os outros, já pode melhorar o mundo, ainda que seja 1%”, reforça a nutricionista Janaína Villaroel, que atua com pacientes de TDC há anos. Janaína diz que o mais difícil é reeducar essas pessoas. Segundo ela, com muito zelo, tudo é possível, e não há nada mais gratificante do que ver alguém melhorar – de dentro pra fora.
Os padrões estéticos existem, e talvez sempre existam. Cuide do próximo, atente-se aos sinais. Os dados são alarmantes e precisam cair. Saia da bolha. Há muita beleza em cada um de nós.
A matéria foi produzida sob orientação do professor Osni Dias e compreende discussão de pauta, reportagem, redação, revisão e a publicação. Desejamos sucesso aos futuros jornalistas e boa leitura a todos.