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Ismael Maciel traz suas lembranças ao Centro Cultural André Carneiro

Trabalho do artista retrata o sertão em cenas minuciosamente descritas com grafite e esfuminho, com referência a grandes autores

Texto e fotos: Osni Dias

Está em cartaz no Centro Cultural André Carneiro a exposição “Lembranças do Sertão”, de Ismael Maciel, trazendo inúmeros desenhos que nos remetem à luta do povo sertanejo. São lembranças transformadas em arte por meio de grafite/lapiseira 0.3, 0.5 e 0.7, mais esfuminho sobre papel. Segundo o autor, um deslumbramento, sensações que o trazem de volta à infância, ao lembrar do pai chegando em casa com sua armadura de couro, seu cavalo Relâmpago, também paramentado, anunciado pelos latidos do cão Bala. A belíssima exposição, aberta em 18 de maio, vai até 29 de junho.

O trabalho do artista está muito bem fundamentado em clássicos da nossa literatura. “Estudei muito pra fazer essa exposição. Aqui tem Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, Lira Neto, Darcy Ribeiro”, este último uma revelação, conta ele, que “achou” as obras, não as escolheu, e por isso exigiu um tempo de pesquisa. Ao lado de cada desenho, uma referência a um autor brasileiro. Além das obras, buscou entender cada elemento que compõe seus quadros, chamando trabalhadores para explicar os instrumentos e ferramentais com os quais trabalham no cotidiano, como a cerca de faxina. Dessa forma, cada traço retrata de perto a realidade de seus conterrâneos nordestinos.

“O sertão vai virar mar não é bem o que está registrado. É que antes eram somente dois povos, uma imensidão de gente – os praieiros e os baianos. Ia tanta gente pra Canudos que, num dando momento, Conselheiro pensou assim: daqui a pouco o sertão vai virar praia, porque os praieiros estão vindo pra cá”. Está tudo documentado, disse Ismael, que é natural de Ibotirama, localizado à margem direita do Rio São Francisco, na Bahia, tendo Lapa do Bom Jesus como referência. É “onde o rio faz a curva”, conta ele.

Ismael diz que seu trabalho de artista é novo. Seu pai era fazendeiro, acabou indo para o interior de São Paulo e perdeu tudo. Mesmo sem saber ler e escrever, foi à luta e começou a pintar paredes com o filho. Comprou um terreno no jardim Melilo e depois se mudou para Cidade Patriarca, ambas em São Paulo, quando Ismael começou a estudar. Depois disso, o artista lembra que começou a lecionar, com passagens por grandes escolas de São Paulo, como Escola Panamericana de Artes, Liceu de Artes e Ofícios, Unaerp e Unimep.

Ao se aposentar, construiu uma casa, teve uma escola – construídas com as próprias mãos –, mas o destino preparou uma surpresa para ele… Um incidente o fez mudar de vida. O artista fechou a escola e acabou vindo para Atibaia. Em suas preces e devaneios, diz que hoje mora no céu, e que Atibaia foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.

Quem quiser conhece de perto o artista, poderá passar pelo Centro Cultural André Carneiro porque o professor Ismael Maciel está fazendo um desafio aos visitantes e vai dar uma aula personalizada a quem passar por lá. O Centro Cultural André Carneiro fica próximo à Praça da Matriz, na rua José Lucas, 28, Centro, em Atibaia. Funciona de 3ª a 6ª feira das 9h às 17h e sábados das 11h às 16h. Não perca esta oportunidade.