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O que dizem os artistas e as Inteligências Artificiais?

A nova forma de produzir arte por meio de IA tem protagonizado diversos debates nas redes sociais; mas afinal, o que dizem os artistas sobre esse movimento?

Iago Yoshimi

Quando tratamos de representação artística, tendemos imaginar alguma das sete populares formas de representação do meio, contida no manifesto publicado pelo italiano Ricciotto Canudo, em 1923 – “Manifesto das Sete Artes”. Contudo, o intelectual não tinha cogitado a possibilidade de uma manifestação artística feita por algo além do humano.
Algo que para a época poderia soar como uma tolice de ficção futurista, hoje é uma realidade. As inteligências artificiais têm tomado os tabloides da imprensa e da tecnologia como sendo a ferramenta de facilitação de trabalhos, produzida para auxiliar as demandas de criação empresarial e de artistas. O que antes era uma preocupação para profissionais que vivem de criação, torna-se cada vez mais um pesadelo iminente para quem usa a imaginação como ganha-pão.

DeepAI: o gerador de imagem por texto
Lançado em 2016, a DeepAI foi a primeira ferramenta online a desenvolver uma inteligência artificial para criação de imagem com base no texto. O programa utiliza-se de “memória de colmeia”, aonde os algoritmos compreendem as descrições fornecidas pelo usuário, e buscam mesclar imagens com essas definições fornecidas pela internet. Esses fatores juntos formam uma imagem única. “A DeepAI foi desenvolvida não apenas para simplificar o acesso à inteligência artificial, mas para entregar resultados imediatos” disse Kevin Bargona, fundador e CEO da Deep AI.
Com o advento das artes renderizadas por programas, como a DeepAI, diversos artistas têm levantado a seguinte pauta: as artes produzidas por inteligência artificial poderão de fato serem consideradas expressões artísticas?

Criação, réplica e baseamento
O artista Sam Yang – conhecido como” Sam Does Arts” e pelos seus trabalhos digitais – explica o que é arte, e seus embasamentos. “A interpretação artística é subjetiva e abstrata. Depende dos olhos de quem vê. Por muitos anos, artistas clássicos não viam a fotografia como uma forma de arte pela sua ‘fácil reprodutibilidade’, porém, hoje, a fotografia é respeitada nesse meio, como sendo uma das principais interpretações artísticas”.
Sam ainda complementa sobre os desafios de arte digital (produzidas utilizando aplicativos e softwares de desenho). “No começo, os desenhos digitais também sofreram represálias por conta da facilidade na produção, por termos ferramentas que facilitam o processo. Mesmo assim, desenhos digitais ainda são desenhos, é necessária uma leitura artística tanto quanto em um pincel físico, e por isso foi ganhando espaço”. Em paralelo a isso, o artista aponta a distinção com criação por IA. “Agora, as inteligências artificiais utilizam-se de imagens já feitas para suas criações, não existe leitura artística de fato. No máximo a maneira como o usuário redige a descrição da imagem”, reflete.

Beatriz Brum, desenhista e bailarina atibaiense, traz uma perspectiva semelhante ao de Sam sobre o tema. Para ela, a arte é composta por sentimentos, e uma obra produzida por uma máquina não seria melhor do que o tato de uma pessoa. “Pinturas, por exemplo, são na maioria das vezes compostas pelo sentimento do autor. Porém, as artes feitas pela inteligência artificial poderiam ser, eventualmente, tratadas como arte, bem como a fotografia”.
Ela ainda aponta a subjetividade na interpretação por arte. “É uma coisa individual de cada um. Eu particularmente não acho tão consideráveis tais obras, em virtude do processo.”

As IA são o futuro da arte?
Segundo a DeepAI, a plataforma forneceu peças para o Museu do Futuro, em Dubai, em 2018. O evento contou com a presença de lideranças mundiais, como o Primeiro Ministro da Índia, Narendra Modi. A empresa acredita que as IA vêm ganhando espaço na visão dos líderes mundiais.
“A ‘AI Art’ não existe há tempo suficiente para prever seu lugar no mundo da arte. Será que vai persistir e chegar aos grandes salões de todo o mundo e às casas de leilões sofisticadas? Só o tempo irá dizer. Já ganhou concursos de arte digital, para grande desdém dos artistas. Pode ser que a novidade desapareça. Ou pode se tornar uma nova maneira de as pessoas se expressarem artisticamente sem usar instrumentos convencionais.” disse Bargona, da DeepAI.

A nova forma de expressão pode ser considerada arte, pois é uma nova criação que apela para filosofias do filósofo Kant, ao tocar nos sentidos e emoções, como narra a obra “Horizontes do Belo: Ensaios Sobre a Estética de Kant” – em que o Belo passa a ser tudo o que é sentido. Segundo Bargona, a princípio, é tendencial o meio rejeitar essa ferramenta, “simplesmente por serem diferentes”.

“Galileu chamar o sol de centro do universo era considerado heresia, não ciência. A Torre Eiffel foi inicialmente ridicularizada como “uma trágica lâmpada de rua” disse Bargona. A arte moderna ainda é fortemente criticada, com alguns simplesmente chamando-a de “lixo”. Os desfiles de moda podem estar longe de estar na moda com trajes extravagantes que não seriam vistos além de uma passarela ou festa à fantasia. Se a IA é considerada arte, apenas o tempo dirá.

A matéria foi produzida sob orientação do professor Osni Dias e compreende discussão de pauta, reportagem, redação, revisão e a publicação. Desejamos sucesso aos futuros jornalistas e boa leitura a todos.