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O Racismo Ambiental em Projetos como o “Skyglass” na Pedra Grande de Atibaia

Maria Carolina Las Casas e Novaes
João Luiz Hoeffel

O “Skyglass”, projeto inspirado em Canela/RS no qual se propõe a instalação de uma estrutura similar na Pedra Grande de Atibaia, tem gerado críticas, especialmente quando se trata da elitização de espaços públicos. Embora a Prefeitura de Atibaia afirme que o acesso à Pedra Grande continuará gratuito, é fundamental analisar o conceito de racismo ambiental e suas implicações em comunidades marginalizadas por trás desse empreendimento.

O racismo ambiental pode se manifestar quando ações e projetos relacionados ao meio ambiente afetam de forma desproporcional determinadas comunidades, geralmente as mais vulneráveis social e economicamente. Essas populações são frequentemente negligenciadas em processos de tomada de decisão e têm pouco ou nenhum poder para influenciar políticas e projetos que afetam suas vidas.

No caso do “Skyglass” ou outros empreendimentos de iniciativa privada na Pedra Grande, a questão da elitização de espaços públicos é um dos aspectos mais evidentes do racismo ambiental. Um ingresso de alto custo (em média de R$ 110,00 por pessoa) limita o acesso a esse atrativo turístico a uma parcela da população, excluindo aquelas famílias que não possuem recursos financeiros para arcar com essa despesa e beneficiando determinados grupos sociais. Com isso, comunidades de baixa renda e historicamente marginalizadas são privadas do direito de desfrutar plenamente desses espaços, perpetuando, assim, a desigualdade social.

Além disso, a implementação de um projeto desse porte pode trazer impactos significativos na infraestrutura local. A grande movimentação de visitantes pode levar à necessidade de melhorias na mobilidade e infraestrutura, como a criação de estacionamentos particulares, taxação de ingressos de visitação ao Monumento da Pedra Grande, banheiros privativos, entre outros, o que poderá resultar em custos adicionais. Infelizmente, esses custos muitas vezes são repassados aos visitantes e munícipes, tornando-as ainda mais distantes desses espaços públicos elitizados.

Vale ressaltar que a inserção de um empreendimento elitizado em uma área de proteção ambiental, como o Monumento Natural Estadual da Pedra Grande, pode alterar a dinâmica da paisagem local, colocando em risco a biodiversidade e, muitas vezes, desrespeitando as práticas culturais dos espaços públicos, como as atividades do vôo livre e a contemplação da natureza, privando-as de sua conexão com o meio ambiente, essencial para a qualidade da saúde emocional e espiritual para a maioria das pessoas que escolhem visitar o local.

Portanto, a transformação do espaço físico natural por meio de projetos elitistas não se limita apenas à modificação da paisagem ou à criação de empreendimentos particulares. Essas intervenções têm um efeito muito mais amplo e profundo nas pessoas, que envolve as relações humanas, o meio natural e o ambiente construído.

Imagem de Luciana Mendonça Meinberg, produzida em 7 de agosto de 2010.

Essas transformações, priorizadas pela perspectiva empresarial perpetuam a segregação socioeconômica, reforçando a exploração da natureza para o consumo de produtos e estruturas turísticas, criando segregações do ser humano com a natureza, agravados por um ciclo de desigualdades, como a violação da função social das áreas protegidas, elitização de espaços públicos e estruturação do racismo ambiental.

Para combater o racismo ambiental e a elitização de espaços públicos, é fundamental que projetos desse tipo sejam desenvolvidos considerando um enfoque mais inclusivo e democrático. A participação da comunidade local deve ser valorizada e respeitada em todas as fases do processo, desde a concepção até a execução do empreendimento.

Além disso, é essencial que as autoridades públicas considerem o impacto social e ambiental desses projetos, buscando medidas que minimizem desigualdades e garantam o acesso igualitário aos espaços públicos para todos os cidadãos. Isso inclui a disponibilização de transporte público acessível, a implementação de programas de inclusão socioeconômica para as comunidades do entorno, o reforço da fiscalização ambiental  e a segurança pública, assim como a destinação adequada de recursos para a educação e preservação ambiental.

Portanto, ao refletir sobre o projeto do “Skyglass” na Pedra Grande e projetos semelhantes, é crucial que a sociedade esteja atenta aos possíveis efeitos do racismo ambiental e à elitização de espaços públicos. Somente através de uma abordagem verdadeiramente inclusiva e consciente será possível construir um futuro onde todos tenham o direito de desfrutar e preservar as riquezas naturais e culturais da nossa cidade.

A imagem de abertura é de Hugo Moura, produzida originalmente para o jornal-laboratório Matéria Prima, em 5 de junho de 2014.

João Luiz Hoeffel é Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP), Maria Carolina Las Casas e Novaes é Doutoranda em Ecologia (UNESP). Artigo especial para o Correio de Atibaia via Coluna Dialetos – Aliança Negra.