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Rua sem saída (Dedicado ao poeta e cronista Paulo Netho)

Marcelino Lima

Fora do trajeto do poeirinha existe uma esquina e nela começa a rua que se chama Pedra da Lua. É sem saída. Fiquei curioso para saber onde e no que ela dará, entretanto resolvi não desviar caminho: marco o ponto em meu mapa dos arredores/lugares a explorar e sem saber bem o rumo que iriei tomar vou adiante, ouvindo nos arredores o ooõ das vacas e o chilrear de insetos. Nestas trilhas que sugerem nos levar a confins detenho a marcha subitamente e fico a imaginar: como seria viver nesta antiga casa de paredes azul royal, com estábulo e curral de madeira, em cujo sítio há um enorme lago refletindo o topo das araucárias e no portão de entrada explode em cachos uma primavera? Fumaça sobe pela chaminé e nem preciso fungar mais forte para sentir cheiro de banha; com mais um pouco de sensibilidade nos ouvidos poderia escutar o chiar da couve na frigideira de ferro. Não ouço, contudo imagino (com água na boca). Assim como fantasio: que bom se eu possuíse um cavalo para vaguear por estas estradas e campos, escoltado pelo Zanc e a Inhanha… pelo menos até a hora em que um deles (ou ambos, por que aonde um vai…) começasse a perseguir um animal silvestre mato adentro e me dessem um “perdido”!

Mano, mano, mano, você precisava ver o recado que algumas espécies de árvores frutíferas vêm dando aos que passam por aqui; algumas chegaram agora à florescência, mas já anunciam que após a florada haverá bonança: como o pessoal destes sítios não dá a mínima se os frutos cairão pelo solo ou os passarinhos é que se refestelarão, em breve voltarei a perambular naquela região. Levarei sacolas vazias nos bolsos e uma faquinha na mão. Sem nenhuma pressa para voltar, como convém aos que sabem como fazer as horas, esperam acontecer. Talvez me deixe cair deitado em um barranco ou fique sentado em uma pedra. Só sei que eu vou mostrar a língua vermelho arroxeada para as nuvens e talvez formule um pedido de casamento, por que não?

Psiu, silêncio…
Vai cair, vai cair:
Caiu uma pitang

#haibun

Marcelino Lima é jornalista profissional formado pela PUC-SP e editor do blog Barulho d’Água Música, dedicado à produção independente. Divulga gratuita e exclusivamente músicas de artistas populares, de viola, de raiz, folclóricas e regional com trabalhos pouco conhecidos ou já consolidados e de qualidade que poderiam ter maior destaque na mídia comercial.