AmbienteAtibaiaNotíciasSociedade

Bairro do Portão pede socorro

Estação de chuvas coloca em alerta população do bairro

Da Redação, com imagens dos moradores

Com a virada do ano, quando caem as chuvas e é maior a precipitação média anual de uma região, alguns bairros em Atibaia sofrem com enchentes, enxurradas e o risco de transmissão de doenças. É o caso do bairro do Portão. Moradores estão em estado de alerta há alguns anos e relatam sofrimento com o alagamento, o congestionamento e outras situações ocasionadas nesta época. Os moradores perguntam: a Prefeitura tem conhecimento dos pontos críticos de alagamentos e que boa parte da água pluvial é decorrente da Fernão Dias, por conta de que não procura a Concessionária para uma obra de compensação de drenagem?

A reportagem esteve no bairro e viu de perto o horror causado pelas chuvas. Não existem placas sinalizando os pontos críticos de alagamento e tampouco um plano de contingência. Todos se perguntam se a Secretaria de Obras tem conhecimento de um protocolo aberto pela população para inserir estas necessidades no Plano Diretor. Em março do ano passado a Prefeitura esteve no local para vistoriar e definir ações emergenciais, mas as mudanças climáticas não dão trégua. As imagens foram cedidas pelos próprios moradores.

“Já vivemos inúmeras enchentes no bairro, mas igual àquela (há 10 anos) não teve igual, tivemos que recuperar mais de oito pontes”, diz um morador. Um morador mais antigo, que não quis se identificar, também comenta: “retiramos milhares de caminhões de lama e entulho e fizemos o maior serviço de desassoreamento no Córrego do Onofre, então dizer que nunca fizemos nada não é verdade. O alargamento do córrego e a reestruturação destas pontes são obras que irão durar mais de 30 anos. Na época foi realizado um projeto de drenagem, mas se perdem nas “gavetas do poder”, você sabe como era antes do processo digital”, referindo-se ao 1doc. Matéria realizada na época dá conta do problema.

No Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), realizado em 2013, ou seja, há 10 anos, foi lançado o primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1). Ele apontou que o aumento da temperatura no Brasil e o regime de chuvas iria mudar. Segundo o documento, as precipitações diminuiriam significativamente em grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país, ao mesmo tempo haveria um aumento nas regiões Sul e Sudeste. Tanto a ciência quanto os pajés concordam nesse sentido. Ambos têm alertado a humanidade de que é preciso fazer alguma coisa. Para ontem. Na época, a Secretaria de Mobilidade e Planejamento Urbano apontou que o bairro do Portão tem sua localização às margens da Rodovia Fernão Dias, com recebimento de águas pluviais em grandes volumes oriundas da rodovia, em períodos chuvosos, e que a concessionária seria responsável pela manutenção de dispositivos de drenagem na área de concessão. Em 2016, reportagem mostrava que 400 famílias ficaram desabrigadas.

Pelos relatos dos moradores é possível observar que, desde a década de 60, o Bairro do Portão sofre com as enchentes, mas naquela época a ocupação da área da várzea não havia acontecido, o que veio a ocorrer em meados dos anos 70, com a chegada de trabalhadores para as obras – principalmente do Clube da Montanha. No entanto, o grande aumento da população aconteceu após a duplicação da rodovia Fernão Dias, quando bairro passou de uma população de 3 mil moradores para 16 mil pessoas. Os erros cometidos na duplicação da pista também são responsáveis pelas enchentes, pois toda água pluvial da Fernão Dias escoa para dentro do bairro.

A Arteris, concessionária da Fernão Dias, precisa dialogar com a Prefeitura e com a Câmara para realizarem uma obra de compensação no Bairro do Portão, pois os moradores têm sido impactados neste trecho paulista.  Em agosto, moradores estiveram no gabinete do Deputado Estadual Simão Pedro (PT), que realizou conversa com ANTT para cobrar da Arteris uma solução. Como ainda não obtiveram uma resposta, esperam agora uma solução com o atual Deputado Federal da região visando uma emenda para um projeto de drenagem para o bairro dentro do Novo PAC do governo federal.

O que falta para o Portão merecer uma obra de drenagem contra as enchentes?
Dona Catarina Leite Prado, 85 anos, nasceu, cresceu, teve filhos, netos e bisnetos no Portão. Ela conta que uma das maiores enchentes que seus olhos viram foi em 1969, quando após um grande temporal, o Lago do Clube da Montanha “estourou e desceu um mundaréu de água” arrastando tudo que tinha pela frente. Segundo ela, muita criação foi embora na enchente: porco, bezerro, galinha, pato, e o povo ficou assustado, achou que era o fim do mundo. A outra foi a de fevereiro de 2011, mas “a vida inteira tem enchente e nada fazem”.

Dona Maria Mendes nasceu em Limoeiro do Norte (CE), tem 68 anos, é migrante e moradora as margens do Onofre há mais de 20 anos. “Meu filho, é aqui que consegui juntar um dinheirinho para comprar este pedaço de chão e criei meus filhos. Apesar da enchente, daqui saio não. Já perdi minhas coisas várias vezes na enchente, ‘nós sofre’ mas vai nas casas Bahia, faz um carnê e começa de novo”, respondeu. Ela prossegue: “depois da maior enchente, essa de 2011, fiquei traumatizada. Não posso ver o céu escurecendo que meu estado de espírito vai mudando”.

 A reportagem pergunta:

– E o que falta, Dona Maria para merecer uma obra contra enchentes?

– Falta vergonha na cara deste povo do poder, para limpar o córrego é preciso promessa.

O morador Antônio Carlos (Tom) revelou que já viveu tantas enchentes, mas acredita que aumentou mais depois dos aterros feitos pela “gente de grana” do bairro e que o Poder Público fechou os olhos. “Alteraram o curso do córrego na cara dura depois da convivência com muita gente do poder”, desabafou.

Moradores relatam que a maior enchente de todos os tempos foi de fato em 2011, quando o “Dentinho” trabalhava na Secretaria de Infraestrutura. “Retiramos mais de 3500 caminhões de lama. A enchente trouxe todo tipo de material que se possa imaginar”, dizem. A reportagem questiona o porquê de não resolverem o problema, e a resposta é rápida: “tivemos vereador do bairro, dizem que hoje ainda tem um vereador do bairro, temos prefeito e agora até Deputado Federal, então falta mesmo é vontade política, né?”. A reportagem também entrou em contato com a assessoria do deputado federal Saulo Pedroso, que ficou de retornar.

Empreendimento na Rua 13
Ao final da reportagem fomos questionados sobre um outro problema no bairro: queremos saber se Prefeitura, mais precisamente a Secretaria de Meio Ambiente, tem conhecimento da movimentação de terras na Rua 13, por um empreendedor que está iniciando um loteamento sem Audiência Pública e sem Estudos de EPIVIZ, e os sedimentos estão causando uma enorme vossoroca indo para o leito do Córrego do Onofre.

Nossa reportagem tem tentado falar com as Secretarias responsáveis desde o ano passado, mas não obteve o retorno.