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Nádima Skeff fala sobre nova geração da base e trabalho no Sfera

A treinadora do sub-14 masculino do Sfera falou com exclusividade ao Correio de Atibaia e contou sobre os passos da carreira dela de estudos e trabalhos dentro do futebol. 

Nádima Skeff foi jogadora de futebol com carreira no Brasil, chegou a defender a seleção brasileira, e também clubes nos Estados Unidos e Dinamarca, depois focou em muitos estudos dentro do futebol e virou treinadora. Passou por alguns clubes do Brasil e de fora, agora sem calçar chuteiras, mas ainda no dia a dia de jogos e no campo como diretora técnica e física, auxiliar técnica e treinadora.

Atualmente treina o sub-14 masculino do Sfera FC, em Jarinu-SP, e faz mestrado em Negócios do Futebol no Instituto Johan Cruyff, em Barcelona.

O Correio de Atibaia falou com ela com exclusividade e você pode acompanhar por aqui:

Como funciona o projeto do Sfera?
Eu acho que os nossos maiores valores são de acreditar que a gente pode transformar a base no futebol brasileiro, sendo um exemplo, uma referência. Eu acredito que nesse primeiro ano, ele já conseguiu mostrar um pouco do que está tentando fazer aqui. O Sfera já tem função desde 2021, mas de operação mesmo, desde fevereiro de 2023.

Eu entrei no Sfera exatamente quando ele nasceu dentro do centro de treinamento, no CFA, onde o Red Bull durante muito tempo teve as operações dele. É um centro de treinamento enorme, um dos melhores do país, acho que isso já mostra o nível de ambição do projeto do clube. A gente acredita e respeita muito todos os outros clubes do Brasil, mas acreditamos que da forma que iniciamos, já nascemos grande. E esse é o nosso slogan: Um clube que já nasceu grande. Na nossa primeira Copinha já fizemos grandes coisas, nosso primeiro Paulista já fizemos grandes coisas, agora pela FAM, também fizemos grandes coisas. 

O nosso projeto acredita muito, o nosso clube acredita muito nessa visão completa do atleta, passamos muitas horas falando sobre todos. Temos um departamento psicossocial muito forte e tem valores muito humanos. Não vemos o atleta apenas pela performance em campo, vemos o atleta como um todo. Tomamos muito cuidado na parte escolar, muito cuidado no tratamento e em como podemos cuidar do atleta. Pensando que ele vai ser uma melhor pessoa, consequentemente se tornará melhor atleta um melhor jogador, um atleta mais responsável, um atleta mais crítico. E isso tem colhido frutos muito positivos. 

Criação de atletas mais críticos
A próxima geração que vai entrar no CT é a 2010, vai ser a que eu vou liderar que vou estar a frente junto com a minha comissão. Eu acho que a gente não briga muito com a realidade, né? Sabemos que é uma geração que tem muito contato com a tecnologia, tentamos utilizar isso da melhor forma possível, da forma mais produtiva, como nosso foco total é muito centrado no atleta, a nossa análise no departamento de performance e desempenho é muito mais focado no atleta, por isso comentei sobre ser um atleta mais crítico.

Eu posso usar como exemplo a categoria 2009, ele tava comigo no ano passado, fazíamos análises individuais toda semana, fazíamos análise coletiva toda semana. Não era focado no adversário, era focado nos atletas. Onde eles tinham a capacidade de não só de ter uma análise crítica deles, mas também terem comentários coletivos nos quais eles criavam.

Isso é um padrão que vai se criando no clube, no geral, em todos os departamentos. Essa função de ter atletas que realmente são críticos deles dos outros do nosso trabalho. Pedimos muito feedback, existem avaliações constantes, temos avaliação a cada 3 meses, onde todas as comissões estão presentes para falar de todos os atletas do clube. Não é só de cada categoria. Como estamos observando muito eles e dando feedback, isso também dá a liberdade deles serem atletas muito observadores e críticos. 

Qual tipo de atleta o Sfera cria
Não temos um time profissional e quando tivermos nosso intuito é ser uma ponte para uma possível transferência (para outro clube), desenvolvemos os atletas para ir para qualquer mercado. É claro que acreditamos, temos os raios do Sfera, temos uma identidade de comportamento, nos quais falamos seriamente que se esse atleta não tivesse vestindo a camisa do Sfera, poderíamos saber que esse atleta joga pelo Sfera.

São raios de fair play, raios de coragem, raios de autonomia, raios de team working, resiliência e isso tudo é comentado diariamente. Isso também está nas avaliações deles. Não é somente no que acreditamos que é melhor pro atleta, mas também sabendo que as categorias podem trabalhar de formas diferentes. A Nádima não vai estar aqui para sempre, não posso determinar a forma que o sub-14 joga, observamos o que está acontecendo, temos valores em cada idade em cada categoria, mas isso possivelmente vai mudar cada atleta tem que ter uma capacidade de adaptação muito forte. Isso também é algo que a gente acredita, gostaríamos de desenvolver atletas que podem se desenvolver em cada mercado ou em qualquer momento da vida deles, por isso que temos junto da parte técnica o departamento psicossocial muito presente.

Treinadoras no meio do futebol
Pro Sfera isso (a integração da mulher dentro do futebol) já é feito, tem mulheres na comissão técnica. Mas para nós, mulheres, realmente ainda é um obstáculo muito grande, nós aqui no CFA de Jarinu, no nosso centro de treinamento, ficamos tão isolados que já acreditamos que isso seja o normal. Até sair e perceber que não é. Por exemplo, agora estávamos na FAM Cup, com clubes de referência, clubes tradicionais, clubes de outros países e eu estava auxiliando o sub-17 do Sfera. Eu era a única mulher em todos os times presentes, em qualquer área. Ainda tem aquele olhar de surpresa, porém já está uma capacidade de mais curiosidade para entender, o Sfera tem tirado isso de letra desde o início do meu processo. Abrimos novos processos este ano, vamos ter novas contratações, a tendência é sim ter mais mulheres no ano que vem aqui no Sfera.

Aqui temos mulheres em todos os departamentos, na diretoria, na psicologia, na área administrativa, na medicina, em todos os lugares. Estamos naturalizando essa presença. Sabemos que o Sfera ainda não é um mundo, mas pretendemos mostrar que o mundo pode ser diferente da forma que estamos fazendo. E já está sendo positivo, já está chamando as atenções necessárias.

Estudos no futebol 
Acredito que teve um momento na minha vida que eu acreditei nas certificações para estar onde queria estar, acho que isso é importante, as pessoas tem que entender. Queria ter pensado isso antes, quando era muito mais nova, tem países que já estão estimulando isso, quando o jogador ainda está exercendo a função de atleta. Eu parei e fui surpreendida pela profissão que bateu na minha porta de repente e eu estava despreparada para isso.

Durante muitos anos a minha vontade era de ter as certificações para que eu pudesse entrar no mercado, hoje em dia eu já penso em certificações que possam somar. Muito mais, então a gente sabe que a minha experiência na UEFA, na Inglaterra foi uma experiência fantástica, por tudo que vivenciei lá, a minha experiência na CBF também. Mas existem outras formas de capacitação, e não podemos esquecer disso, eu não vou esperar a próxima licença A ou a Pro para tentar criar algum tipo de capacitação para mim.

Agora estou fazendo mestrado na Johan Cruyff Institute dee Football Business. Eu não sou ainda uma gestora, mas isso possivelmente daqui 15, 20 anos de preparo, que o clube quis investir comigo, talvez essa seja a melhor das maneiras, já começar a se preparar pensando que o futebol é muito, muito multifatorial não sabemos qual pode ser a próxima oportunidade de mercado com o que o futebol está evoluindo. Uma coisa que eu digo para pessoas quando me perguntam em termos de capacitação, não espera abrir o curso da CBF, encontrar as pessoas que dão as aulas e perguntar, questionar. Eu tenho as certificações, mas muito do que eu sei hoje em dia não veio necessariamente da certificação.