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Pendurado à brocha

Marcelino Lima

Tem dias que a gente nem parte, nem morre:
Acende vela, o santo não baixa, o vento não folga,
Chá mantém careta, mal queima, nem empolga,
Inútil entornar copos à espera do porre.
Tenta música clássica, barroco puro, na veia,
A mosca, aflita, se enrosca ainda mais à teia.
Vai de batucada, quem sabe um bom samba?
Cadê as pernas, a malemolência: caramba!
É: há dias em que tudo é assim mesmo
Nem adianta apelar para o ensimesmo:
A brincadeira só cresce e te absorve,
Nem ler poemas de amor te envolve
Escrever cartas de amor é ridículo.
(Quem nunca se sentiu outra pessoa
A sofrer de coisas ridículas à toa
Tantas vezes e por nada atordoada
Tropeçando em tapetes, na linha reta da porrada?)
Quando falta luz e o ar rareia no cubículo
Por mais que encharcada não se acende a tocha
E o que parece saída te deixa pendurado à brocha…

Marcelino Lima é jornalista profissional formado pela PUC-SP e editor do blog Barulho d’Água Música, dedicado à produção independente. Divulga gratuita e exclusivamente músicas de artistas populares, de viola, de raiz, folclóricas e regional com trabalhos pouco conhecidos ou já consolidados e de qualidade que poderiam ter maior destaque na mídia comercial. A imagem é da Isadora Almeida (IA).