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Às mulheres de Atibaia – Ruth Rubbo

Juliana Gobbe

Conheci Ruth Rubbo nas minhas andanças culturais e logo fiquei encantada com sua verve fazedora e multiplicadora de talentos.

Quem olha a artista de longe nem imagina em quantas ela se desdobra. Ruth é uma pessoa cuja intensidade anuncia muitas coisas, uma vida dedicada à arte, pesquisa, música e muito mais.

Sua seriedade ao se comprometer com tantos projetos tem a levado a receber prêmios e o merecido destaque pela relevância do trabalho.

Importante ressaltar a dignidade com a qual pretende levar para as próximas gerações, o contato com a tradição caipira, sobretudo da conhecida Paulistânia, cujo apreço também esteve presente no magistral livro de Antonio Candido: Os parceiros do Rio Bonito.

Este mergulho que ela faz na tradição caipira nos leva a conhecer e reconhecer um pouco do que se produziu e se produz por aqui, pois são muitos os entusiastas dos movimentos que emergem de uma proposta secular, portanto, ao desvendar a singeleza do universo caipira, Ruth nos leva a desnudar nossas almas para receber de braços abertos a poesia da terra.

Assim foi quando deu de presente à Atibaia o CTC – Centro de Tradições Caipiras, elementos como a viola, o dialeto caipira, catira e as festas juninas no estado de São Paulo foram devidamente reconhecidos por ela num rico processo de dar voz a toda uma estética própria do povo brasileiro ou muitas vezes apropriadas por este ao longo dos tempos.

Em relação ao dialeto caipira, o já citado Antonio Candido costumava dizer que quando o caipira fala “pregunta” ele está incorporando a antiquíssima Língua Portuguesa em seu viés originário.

Outra vertente importante de seu trabalho foi a criação de um grupo de mulheres para tocar viola. O Viola em flor encantou o público de Atibaia em diversas ocasiões com seu rico repertório. Cabe lembrar que a viola sempre foi considerada um instrumento usado por homens. Sabe-se que a própria Inezita Barroso sofreu preconceito por tocar viola. Mais uma vez, nossa Ruth inova ao trazer as mulheres para a música caipira.

Ruth também atua bravamente como coordenadora e integrante do grupo Raízes de Atibaia. Seus lindos projetos já nos trouxeram repertórios inesquecíveis, inclusive nos mostrando os compositores locais, ressaltando seus trabalhos.

A palavra valorizar tem suas raízes etimológicas nos idos de 1890 e basicamente significa reconhecimento e valorização de algo ou alguém. Pois é, talvez seja esta palavra que melhor traduza a nossa musa caipira. Valorizar o novo com olhos firmes no futuro, mas não esquecendo os feitos passados.

Há uns dois anos eu convidei nossa musa para fazer parte da Serenata do Abraço, movimento que coordeno em Atibaia há 12 anos, ela prontamente aceitou e passou a iluminar nossas serestas. Sempre pronta e disponível, é um exemplo de pessoa e artista.

Para você, Ruth…só tenho flores e aplausos. Vida longa ao seu trabalho.

* Juliana Gobbe é Doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Autora de Óculos de Marfim, À esquerda do Império (2017) e Os primeiros tempos da literatura atibaiense (2024). Coordena o blogue “Tecendo em Reverso”, os coletivos Abraço Cultural, Kalúnia e participa do Coletivo André Carneiro.