Exclusivas

A dualidade e a perfeição

Mauricio Andrade

Na possibilidade dos acertos, é preciso buscar em quê estamos errados. Não pelo fato de que nossos acertos sejam absolutos, mas para que consideremos a possibilidade de nos aprimorarmos cada vez mais. Neste mundo, certamente todo acerto é apenas um ponto de equilíbrio em meio aos infinitos caminhos de crescimento em direção à perfeição. Mas caso não acreditemos em perfeição, é preciso considerar que todas as coisas criadas obedecem a uma ordem de evolução, ainda que aos nossos olhos não sejamos, no momento, capazes de perceber que tudo realmente caminha para tal.

Tudo neste mundo faz parte da dualidade, sempre há um fim e um novo começo, sempre existe o oposto, desde nosso pensar, às nossas opiniões. Nossa forma de ver, sentir, entender, registrar os fatos, que são, um ponto de vista, ainda que corretos dentro deste paradigma, fazem parte da dualidade. Não nos parece estarmos prontos para a perfeição, porque não conhecemos a perfeição em nossa consciência, embora possamos admirá-la em todo nosso entorno. Ao olharmos pelos incríveis telescópios astrofísicos que a humanidade criou, percebemos o inusitado, leis da natureza que ainda não conhecemos, assim como estamos conhecendo nosso ser interior e a própria consciência. Somos desconhecidos a nós mesmos. Em grande parte, a perfeição existe em nós, mas não a percebemos por estarmos sempre nos identificando com a dualidade.

Nesse paradigma de percepção, ignoramos que exista uma educação moral, mas não a moral consignada pelas leis, parcialmente compreendida, por causa de nosso ponto de vista. Qual critério usamos para decidir o que é certo ou errado, bem ou mal? Se conseguimos perceber esses parâmetros para o benefício dos seres, e de toda vida, esbarramos na perfeição onde existe equilíbrio. Quando tentamos burlar esse equilíbrio, nos perdemos e usamos conscientemente, subterfúgios, crendo que existe isenção e impunidade moral. O que pode justificar o prejuízo a outras vidas, seja de que nível for? Ao criarmos leis para nos aproximar da natureza do equilíbrio, tentamos trazer a consciência dessa natureza, mas isso não é possível se permitimos que a dualidade seja a regra.

Mas que benefício existe na dualidade, já que todas as coisas servem a um propósito? É impossível que algo seja inútil, já que existe, ainda que não compreendamos plenamente, já que o mal não tem finalidade ao benefício, isso nos parece um paradoxo. Assim como de alguns venenos é possível extrair medicações, talvez, o mal sirva como essa substância em algum nível de aprendizado, crescimento e libertação das próprias limitações. Como não existe ação sem reação, e escolha sem consequência. Precisamos urgentemente compreender o propósito de nossa existência através do aprendizado e significado das escolhas, em que consigamos enxergar a dualidade, e perceber que a perfeição existe nas ações e escolhas não duais.

Parece um labirinto, se pensarmos em ação e reação e acreditar que possa existir escolhas não duais. Talvez, não escolha em si, mas a consciência dentro da escolha, esse é o ponto. Assim, nos parece que toda evolução e mecanismo dela vem da consciência, de uma consciência que é o propósito da própria existência de todas as coisas. Se tal compreensão não fizer parte do aprendizado de todas as coisas, das pequenas às grandes, do micro ao macro, estaremos fadados a dissolução completa ao final da jornada, assim como compreende algumas crenças. Se considerarmos que algo é dissolvido, ainda assim, esse algo teve a possibilidade de evoluir enquanto existente.

A perfeição não é impossível, e o impossível em si é apenas uma condição temporária, até que se compreenda as regras que regem perfeitamente o equilíbrio. O que somos não é uma condição aleatória, mas um projeto de perfeição que necessita da consciência desperta e em equilíbrio com a grande consciência que tudo gerou, e a tudo possibilitou o avanço. Dentre nossas ações, depende apenas de escolhermos o que vem a beneficiar a vida, na dimensão do aprendizado contínuo, a todo tempo e lugar.

Maurício Andrade coordena a AldheyaTerra – Consultoria de Relações Humanas e Projetos Humanitários.

Ouça no Soundcloud